segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Osamu Tezuka

Osamu Tezuka
1928-1989
Cartunista e realizador japonês

Pioneiro da moderna história em quadrinhos do Japão, Tezuka Osamu (手塚治) nasceu em uma aldeia que ficava situada ao sul do grande Condado de Toyono, onde atualmente está localizada a Cidade de Toyonaka, na Província de Osaka, em 03 de novembro de 1928, como filho mais velho de Hattori Ayako (服部文子) e Tezuka Yutaka (手塚粲), ambos descendentes de tradicionais familias japonesas. Por ter nascido no antigo dia do feriado de aniversário do imperador Meiji, recebeu o nome de "Osamu"(治, reino).
O Imperador Meiji (明治天皇), cujo nome pessoal era Mutsuhito (睦仁, 1852-1912), governou o Japão entre 1868 até 1912. No Japão, o dia do aniversário do Imperador é um feriado nacional, que antigamente se chamava "Tensho Setsu"(天長節). Mutsuhito havia nascido em 03 de novembro, por isso, até sua morte, o feriado de Tensho Setsu foi celebrado neste dia. Após sua morte, o dia 03 de novembro passou a ser chamado "Meiji Setsu"(明治節, Aniversário de Meiji - Por Mutsuhito ter encerrado o governo feudal dos generais Tokugawa, neste dia é celebrado o nascimento do Japão Moderno). Em 1926, com a ascensão de seu neto, o Imperador Hirohito (裕仁, 1901-1989), conhecido como Imperador Showa (昭和天皇), o dia de Tensho Setsu foi mudado, pois Hirohito havia nascido em 29 de abril, dia em que o feriado passou a ser celebrado. Quando o Japão foi derrotado na Segunda Guerra Mundial, foi estabelecida uma nova Constituição no país em 1948, e o dia 03 de novembro passou a ser o feriado nacional de "Bunka no Hi"(文化の日, Dia da Cultura). Um dos atos para a democratização do Japão foi a extinção da crença que existia, de que o Imperador era descendente divino, por isso, a forma honorária "Tensho Setsu" foi mudada para o popular "Tennô Tanjobi"(天皇誕生日), insinuando que o Imperador não era um ser divino, e sim, uma pessoa comum. O dia 29 de abril, foi o feriado de Tenno Tanjobi até a morte de Hirohito em 1989, quando se tornou o feriado de "Midori no Hi"(みどりの日, Dia do Verde), mantido até 2007, quando passou a ser chamado de "Showa no Hi"(昭和の日, Dia de Showa). Hoje, o feriado nacional de "Tenno Tanjobi" ocorre no dia 23 de dezembro, dia do aniversário do atual Imperador japonês Akihito (明仁,1939-   ).

Tezuka Taro (1862-1932)
Tezuka Mitsumori (?-1184)
Osamu era neto do oficial de justiça Tezuka Taro (手塚太郎, 1862-1932), um dos fundadores da Escola de Direito de Kansai, estabelecimento que deu origem a atual Universidade de Kansai (関西大学), em Osaka, e tinha como bisavôs, os médicos Tezuka Ryosen (手塚良仙, 1826-1877), um dos pioneiros da vacinação contra a varíola no país, e Otsuki Shunsai (大槻俊斎, 1806-1862), que foi médico do chefe de Estado Tokugawa Iemochi, e indicado para ser o primeiro presidente da Faculdade de Medicina de Tóquio, porém, não assumiu o cargo por ter morrido precocemente antes da inauguração da mesma.
Hattori Masanari (1542-1596)
Osamu também tinha parentesco com Tezuka 'Taro' Mitsumori (手塚光盛,'太郎', ? -1184), um lendário samurai que combateu durante a famosa guerra Taira/Minamoto, onde as duas famílias se enfrentaram para tomar o poder político do Japão no fim do Século XII, e com Hattori Masanari (服部正成, 1542-1596), um samurai que serviu ao general Tokugawa Ieyasu e ficou conhecido pelo nome de 'Hattori Hanzo'(服部半蔵), um dos mais folclóricos militares da cultura popular moderna, a quem são atribuídas várias histórias sobre suas habilidades físicas, paranormais e de combate, sendo retratado em diversos seriados, jogos de videogame, filmes históricos e de aventura na mídia moderna.
No inicio do Século XX, a Província de Osaka se tornou um grande centro econômico, porém, a industrialização da região fez com que as áreas residenciais se deteriorassem. Com o desenvolvimento das ferrovias interprovinciais entre 1905 e 1920, os moradores de Osaka começaram a ser atraídos para as partes ainda pouco exploradas do interior. Seguindo este processo, os pais de Tezuka Osamu deixaram Osaka em 1933, e se mudaram para o Povoado de Takarazuka, na vizinha Província de Hyogo, que, apesar de ser um povoado em desenvolvimento, já era considerado um grande centro cultural do país, com locais de diversão e teatros.
Na infância, durante os finais de semana, Osamu não saía de sua casa, onde ficava assistindo comédias mudas do ator e diretor anglo-americano Charles Chaplin (1889-1977) e desenhos do realizador norteamericano Walt Disney (1901-1966) em um projetor 'Baby Pathé' de seu pai.
A mãe de Osamu era extremamente submissa, tendo sido criada sob a educação rígida do pai, o tenente-general do exército Hattori Hideo (服部英男), que dela sempre exigia obediência absoluta. Este fato era complementado pelo cárater do pai de Osamu, um autoritário funcionário de uma indústria de metais.
Takarazuka Kagekidan
Takarazuka Onsen
O então Povoado de Takarazuka (Takarazuka só seria elevada ao status de 'cidade' em 1954), era tipicamente rural, com pequenas áreas residenciais emergentes espalhadas. Entre os diversos pontos culturais de destaque da região, estavam o zoológico e parque de diversões "Takarazuka Family Land"(宝塚ファミリーランド), o "Takarazuka Onsen"(宝塚温泉, uma fonte de águas quentes, hotel e spa, aberta em 1887), o "Takarazuka Dai Gekijo"(宝塚大劇場, Grande Teatro Takarazuka) e a sede da companhia "Takarazuka Kagekidan"(宝塚歌劇団), um grupo de teatro formado apenas por mulheres, que fazia apresentações de versões de espetáculos da Broadway norteamericana e dramatizações de romances.
Hotel Takarazuka
Osamu tinha uma convivência muito mais próxima com sua mãe, que o levava para assistir os espetáculos teatrais no centro de Takarazuka. O fato do pai de Osamu ter sido sócio de um clube no centro, permitia que o menino pudesse almoçar algumas vezes no restaurante do "Hotel Takarazuka"(宝塚ホテル), que ficava nas proximidades do Onsen. 
Osamu era habituado a linguagem de sua mãe, uma linguagem urbana, comum as pessoas que haviam crescido na área metropolitana de Tóquio, este fato fez com que nem ela e nem seu filho se adaptassem de imediato aos dialetos da parte rural de Osaka e Hyogo.
Ishihara Minoru
Em 1935, Osamu começou a frequentar a "Escola Primária de Ikeda anexa da Universidade Osaka Kyoiku"(大阪教育大学附属池田小学校), na cidade de Ikeda, em Osaka. Para Osamu, o inconveniente de não compreender bem os dialetos rurais era agravado por sua baixa estatura, os óculos que usava devido a miopia, e seu cabelo ser muito encaracolado. Tudo isso o fazia se isolar e o fez ser alvo de brincadeiras por parte das outras crianças durante o inicio de sua vida escolar. Um dos poucos amigos de Tezuka nesta época foi Ishihara Minoru (石原実), depois presidente da "Relojoaria Ishihara"(石原時計店). Graças a influência de Ishihara, Tezuka começou a se interessar por biologia, ciências, astronomia e pela coleta e estudo de insetos, chegando a escrever um catálogo, alguns anos depois, com ilustrações suas, onde descrevia 72 espécies diferentes.
Catálogo de insetos, feito por Tezuka
Museu Científico de Osaka (1937)
Em 1937, quando Osamu tinha aproximadamente nove anos, foi fundado o "Museu de Ciências de Osaka"(大阪市立電気科学館), que foi o primeiro museu científico, e o primeiro planetário do Japão. O local fascinou Tezuka que passou a visitá-lo cerca de uma vez a cada mês.
Auto retrato
Em setembro de 1940, o então primeiro ministro japonês Fumimaro Konoe (近衛文麿, 1891-1945), oficializou o chamado "Tonari-gumi"(隣組, Associação de Vizinhos), um programa de mobilização nacional que criava unidades compostas por moradores em cada cidade. Estas unidades ficavam responsáveis por manter a ordem, realizar a manutenção de saúde pública, combate a incêndios, defesa civil e propaganda do governo, além de serem os 'vigilantes' da comunidade, com a função de delatar a polícia, quaisquer pessoas que cometessem atos de infração a lei nacional, anarquia, manifestação politica de oposição ou comunista, ou conduta considerada imprópria ou imoral. A participação era obrigatória por lei, o que fez os pais de Tezuka também se associarem ao Tonari-gumi, que só seria extinto pela intervenção norte-americana, após a Guerra.
Norakuro, de Tagawa Suiho
Norakuro (1938)
Foi aproximadamente nesta época, que Tezuka começou a ler os livros em quadrinhos do cão "Nora Kuro"(のらくろ, vira-latas preto), criação do desenhista Tagawa Suiho (田河水泡, 1899-1989), personagem cujo nome provinha das primeiras palavras dos nomes 'Nora Inu'(野良犬, cão vadio, ou vira-lata), que se referia ao gênero do personagem, e "Kuro Kichi"(黒吉, preto sortudo), que seria o seu nome verdadeiro. "Norakuro" era um cão antropomórfico que servia ao Exército Imperial Japonês, lançado originalmente em 'manga'(漫画, história em quadrinhos), a partir de janeiro de 1931, sendo transformado em vários 'anime'(アニメ, animações/desenhos animados), depois de junho de 1933, como propaganda de Guerra. Sua produção foi paralisada por ordem da intervenção aliada após a Segunda Guerra Mundial, reformulada  e retomada várias vezes até 1981. Norakuro voltou para os desenhos animados a partir dos anos 70, e é atualmente o mais antigo personagem de animação japonesa, que ainda é comercializado em produtos, imagens e publicações.

Tagawa Suiho (田河水泡) foi um cartunista nascido como Takamizawa Nakataro (高見沢仲太郎), no Distrito de Sumida, em Tóquio, a 10 de fevereiro de 1899. Formado na 'Nihon Bijutsu Senmon Gakko'(日本美術専門学校, Faculdade de Artes do Japão), foi integrante do grupo de arte moderna do dramaturgo Murayama Tomoyoshi (村山知義, 1901-1977).  Oficial de primeira classe do Exército Imperial Japonês entre 1919 a 1922, a partir de 1926, passou a trabalhar com um estilo de arte conhecido como 'rakugo'(落語), ou 'contador de histórias', que lhe conferiu notável prestígio. Contratado para escrever contos para a editora 'Kabushiki Kaisha Kodansha', até 1927, quando foi incentivado a realizar caricaturas. Em 1931, lançou a série 'Norakuro'(のらくろ) sobre um cão preto que serve ao exército, publicada pela 'Kodansha' na extinta revista "Shonen Kurubu"(少年クラブ), inspirada no período em que exerceu o serviço militar e os eventos das correntes Guerras Sino-Japonesa e Segunda Guerra Mundial. Após a Guerra, o personagem foi modificado, com suas histórias sendo ambientadas em cenários e empregos civis. Seu traço influenciou autores como Hasegawa Machiko (Sasae-san), Kurakane Shosuke, Sugiura Shigeru (autor de obras de ficção) e Tezuka Osamu. Foi amigo pessoal do escritor Shusaku Endo (遠藤周作, 1923-1996), indicado ao Nobel de Literatura em 1994. Por sua contribuição a cultura de seu país, foi condecorado com a Medalha de Honra de Faixa Púrpura, e a Ordem do Sol Nascente. Morreu em Tóquio, a 12 de dezembro de 1989, vítima de câncer no fígado, aos 90 anos.

Desenho antigo de Tezuka
Obra antiga de Tezuka
Osamu começou a desenhar bem cedo, porém este talento só emergeria para conhecimento público quando ele estava cursando o quarto ano do ensino fundamental. Quando passou para o quinto ano, Tezuka foi flagrado fazendo caricaturas durante a aula e conduzido até a sala dos professores, onde foi repreendido, pois não era admissível realizar dentro das salas de aula, nenhum ato que não fosse referente ao aprendizado. Todavia, suas caricaturas encerraram as brincadeiras que sofria na escola. Elas o tornaram popular entre os colegas, e passou a receber visitas de amigos em sua casa, fato que não ocorria anteriormente. Todos os episódios ocorridos na vida de Osamu a partir de sua chegada em Takarazuka, o pai ditador, a mãe submissa, o isolamento na infância, os estudos, as ciências, os espetáculos teatrais e as ações das pessoas e do governo viriam a ser fundamentais para o desenvolvimento de sua obra.
Em 1941, Tezuka passou a estudar na "Escola Kitano de Ensino Secundário Provincial de Osaka"(大阪府立北野高等学校), localizada no Distrito de Yodogawa, que era ministrada por um sistema rígido que proibiu a sua manifestação artística dentro da escola. Com a intensificação das batalhas na China, onde o Japão havia realizado um processo de invasão, e o agravamento das campanhas militares no Oceano Pacífico no segundo semestre de 1942 afetaram as instituições de ensino gradativamente até que em 1944, a situação crítica fez com que os alunos passassem a receber educação militar para auxílio às forças de combate. Em setembro daquele ano, Tezuka Osamu, então com quinze anos, foi mandado para trabalhar em um hangar realizando manutenção de arsenal.
O curso secundário de Tezuka deveria ter durado até meados de 1946, mas devido ao avanço da Guerra, ele foi formado precocemente, em março de 1945, e seis meses depois, foi alistado na "Gakuto Kinro Doin"(学徒勤労動員, Mobilização de Trabalho Estudantil), onde estudantes eram recrutados para compensar a falta de mão de obra na defesa civil e para produção e estocagem de alimentos. Tezuka passou a integrar a "Bo Ku Kanshi Sho"(防空監視哨, Patrulha de Defesa e Monitoramento Aéreo), e sua função era vigiar os céus da cidade e alertar sobre a aproximação de aviões inimigos, sendo quase morto por uma carga incendiária durante um dos Bombardeios de Osaka, durante uma de suas vigílias.
Os Bombardeios de Osaka foram uma série de ataques aéreos realizados pelos Estados Unidos entre março e agosto de 1945, com a intenção de destruir as indústrias pesadas e navais que existiam na província. Porém, Osaka era a segunda maior cidade do Japão na década de 40. Acredita-se que mais de dez mil civis tenham morrido durante estes bombardeios. (Na foto, a cidade de Osaka após os ataques).

Em julho de 1945, Tezuka Osamu, então com dezesseis anos, passou nos testes e foi admitido para estudar na Faculdade de Medicina da Universidade Imperial de Osaka (大阪帝国大学), hoje, Universidade de Osaka. Porém, para conseguir tal feito, ele teve de falsificar sua matrícula, alegando que tinha nascido em 1926, e que tinha, portanto, dezoito anos. Tezuka não foi descoberto e conseguiu se formar alguns anos depois, mas acabaria por não exercer a profissão. A fraude acadêmica de Tezuka só seria revelada após sua morte, por esse motivo, muitas obras dentro e fora do Japão, principalmente as mais antigas, ainda registram errôneamente, o ano de seu nascimento como tendo ocorrido em 1926.
Enquanto estudava Medicina, Tezuka começou a trabalhar no Departamento de Artes do "Mainichi Shinbun"(毎日新聞), um dos maiores jornais do país, fundado em 1872, e o mais antigo jornal diário do Japão ainda em circulação.
'Yurei Otoko' (1946)
No final de 1945, o editor do "Mainichi Shogakusei Shimbun"(朝日小学生新聞), o segmento do jornal destinado para os adolescentes, solicitou do Departamento de Artes, uma tira de história em quadrinhos para ser publicada. A pessoa responsável do Departamento já tinha conhecimento do talento de Tezuka, que tinha lhe mostrado uma obra amadora sua, entitulada "Yurei Otoko"(幽霊男, Homem Fantasma), e solicitou que Tezuka fizesse a tira.
'O Diário de Ma-chan', estréia de Tezuka (1946)
Em 04 de janeiro de 1946, Osamu Tezuka apresentou "Ma-chan no Nikicho"(マアチャンの日記帳, O Diário de Ma-chan), uma história que retratava o dia a dia de um menino travesso em idade pré-escolar, com seus pais e amigos. A tira acabou fazendo sucesso, e Tezuka passou a escrevê-la, naquele que ficaria conhecido como seu trabalho de estréia. As primeiras tiras foram lançadas sem seu nome, que só foi creditado no decorrer dos lançamentos.
'Osa Mushi', de Tezuka
Em 1946, Tezuka se tornou um jovem de cabeça raspada, com dezenove anos (na verdade, tinha dezessete), que havia lançado um personagem que tinha ficado muito conhecido, e que estava sendo transformado em bonecos e doces. Quando foi perguntado por um nome artístico, Tezuka se lembrou dos insetos que coletava na infância, entre eles, um besouro coléoptero da família 'Carabidae', carnívoro, não voador, de hábitos noturnos, chamado popularmente de "Osa Mushi"(筬虫, Inseto do Junco). O nome "Osa Mushi", lembrava seu próprio nome 'Osamu', então como um trocadilho, Tezuka decidiu adicionar a seu próprio nome Tezuka Osamu (手塚治), o termo "Mushi"(虫), que refere-se a Inseto, e fez ainda uma pequena modificação em seu sobrenome, passando a ser conhecido como "Tetsuka Osamushi" (手冢治虫). Sob este nome de autor, 'Ma-chan no Nikicho' continuou sendo escrita, totalizando 73 tiras, de quatro quadros cada uma, que foram publicadas até 31 de março daquele ano.
'Chinen to Kyo-chan' (1946)
'A-chan to BKo-chan Tankenki'
Já em abril, Tetsuka começar a escrever uma nova sequência de tiras, entitulada "Chinen to Kyo-chan"(珍念と京ちゃん, Chinen e Kyo-chan), para o jornal "Quioto Shimbun"(京都新聞), situado no Distrito de Chukyo, na Província de Quioto, e que continuaria até o começo de agosto, quando já tinha começado a sequência de tiras "A-chan to BKo-chan Tankenki"(AチャンB子チャン探検記, As Aventuras de A-chan e Bko-chan), novamente para o Mainichi Shimbun, que continuaria até outubro.
'Kasei Kara Kita Otoko' (1958)
Enquanto realizava estes trabalhos curtos com tiras de quatro quadros, Tetsuka deu inicio a  trabalhos maiores, como "Kasei Kara Kita Otoko"(火星から来た男, O Homem de Marte), e "Lost World-Rosuto Worudo"(ロストワールド, O Mundo Perdido) este último, uma versão para a obra do escritor inglês Arthur Conan Doyle (1859-1930), ambos só seriam lançados posteriormente.
'Shin Takarajima' (1946)
Ainda em 1946, o artista, cartunista e animador Sakai Shichima (酒井七馬, 1905-1969), entrou em contato com Tetsuka após ter visto seus trabalhos nos jornais, e o convidou para realizar a romantização de um roteiro de sua autoria, chamado "Shin Takarajima"(新宝島, Nova Ilha do Tesouro), que era baseada na obra do escritor escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894).
Este manga foi publicado no antigo formato "Akahon"(赤本, Livro Vermelho), que tinha este nome devido a cor vermelha de sua capa. Não existem informações precisas sobre onde ou quem produzia o Akahon, mas acredita-se que sua sede era um pequeno comércio, que também atuava como publicadora e encadernadora. As cópias das obras eram feitas a mão, uma a uma, em papel de baixa qualidade, o que barateava o custo da produção, que era vendida em lojas e barracas, nos arredores de Tóquio e Osaka.
Trecho de 'Shin Takarajima'
Inicialmente, 'Nova Ilha do Tesouro' seria uma colaboração artística mútua entre os dois artistas, no desenvolvimento da obra, porém concluiu-se que Tezuka acabou por realizar sozinho a maior parte do trabalho. O estilo de Tezuka era diferente das obras de manga comuns na época, nele, os quadros seguiam uma ordem de desenvolvimento quase que cinematográfico, por esse motivo, 'Shin Takarajima' foi considerado a "Primeira Obra do Manga Moderno". A primeira tiragem esgotou em pouco tempo, e teve de ser relançada pelo Akahon, em abril de 1947. Porém, devido a necessidade de urgência na elaboração das novas cópias, a Akahon decidiu por dispensar o demorado processo de cópia manual, e tomar uso da fotogravura, uma forma utilizada para copiar figuras em revistas e jornais, que devido ao custo maior, era mais rara para ser utilizada em um Akahon. Não haviam métodos de controle conhecidos sobre a vendagem do Akahon, todavia, acredita-se que 'Nova Ilha do Tesouro' tenha vendido entre quatrocentas e oitocentas mil cópias, apenas em 1947. A Akahon continuaria a produzir quadrinhos de baixo custo pelos oito anos seguintes. Em 1955, com o avanço do mercado de manga e da imprensa de alta velocidade, os Akahon foram completamente extintos. (NOTA: o 'Akahon' foi um dos formatos usados para publicar livros com ilustrações feitas por xilografia, que eram chamados 'Kusazoshi'(草双紙), e foram muito populares entre o início do Século XVII, até a metade do Século XVIII. Atualmente, 'Akahon' é o nome dado a uma série de livros preparatórios para vestibulares, de capa vermelha, que são publicados pela editora Kyogakusha desde os anos 80, Estes não são relacionados com o extinto livro de manga).
Apesar de 'Nova Ilha do Tesouro' ter sido um sucesso grandioso, Tezuka recebeu apenas três mil ienes por seu trabalho (atualmente, cerca de trinta e oito dólares) e não teve direitos sobre parte nos lucros. Tempos depois, Sakai alegou ser o autor das idéias inovadoras que geraram o trabalho com estilo cinematográfico e as raízes do manga moderno, porém, a crítica e o público não deram crédito a suas ponderações. Isso levou a um afastamento entre dois artistas, que se encontrariam algumas poucas vezes, no decorrer de suas vidas.
Sakai Shichima (酒井七馬) foi um cartunista, historiador e artista, nascido Sakai Yanosuke (酒井弥之助), na Província de Osaka, em 26 de abril de 1905. Iniciou carreira como caricaturista enquanto cursava o ensino médio, em 1920. sendo contratado pela extinta revista "Osaka Puck"(大阪パック) em 1923. Trabalhou como repórter de assuntos referentes a animes no antigo jornal "Osaka Shimbun"(大阪新聞) em 1929, quando voltou sua carreira para as animações. Empregado no Departamento de desenhos animados dos Estúdios 'Nikkatsu Kabushiki Kaisha'(日活株式会社) em 1935, demitiu-se poucos meses depois, retornando a carreira de cartunista para a 'Osaka Puck'. Realizou trabalhos de animação a partir de 1941, tendo de parar suas produções devido a intervenção aliada de 1945. Ao ter contato com a arte de quadrinhos norteamericana, realizou a publicação de vários livros e trabalhos em revistas. Em 1947, escreveu o roteiro de 'Shin Takarajima', que foi ilustrado por Osamu Tezuka, todavia, apenas o nome de Sakai foi creditado na obra, o que causou a dissolução da parceria entre os dois artistas. Aproveitando o sucesso do manga, realizou outras obras baseadas em 'Shin Takarajima', que totalizaram sete sequências até 1949, quando o período de popularidade se encerrou. Escreveu roteiros para apresentações de 'kamishibai'(紙芝居), o tradicional pequeno teatro ambulante de figuras de papel, a partir de 1950, e histórias para o jormal 'Osaka Shimbun' entre 1954 e 1959. Em 1964, passou a realizar roteiros desenhados para animes do Estúdio 'Kabushiki Kaisha TMS Entertainment'(株式会社トムス エンタテインメント), como "Obake no Q-Taro"(オバケのQ太郎) e "Robotan"(ロボタン). Devido a decadência do 'kamishibai', em 1966, decorrente da popularização da televisão, passou a ter dificuldades financeiras, que o fizeram criar uma escola de desenho manga em 1967. Após um período de pobreza e obscuridade, (no que se dizia, que passou a beber refrigerantes para 'enganar a fome'), seus trabalhos foram solicitados pela revista 'Comic Jun'(ジュンマンガ), quando já estava gravemente doente. Realizou apenas uma publicação na revista, em dezembro de 1968, semanas antes de sua morte, ocorrida no Hospital da Cruz Vermelha de Osaka, em 23 de janeiro de 1969, vítima de tuberculose pulmonar aos 64 anos.

'Kasei Hakase' (1947)
Desenho acadêmico de Tezuka
A realização de um sucesso de vendas incentivou Tezuka a abandonar seu trabalho paralelo como ilustrador de livros acadêmicos, para se dedicar exclusivamente a arte dos quadrinhos. Ainda naquele ano, Tetsuka lançaria as primeiras obras longas de própria autoria, entituladas "Kasei Hakase"(火星博士, Doutor Marte), a história de um cientista raptado por marcianos, "Kaijin Koronko Hakase"(怪人コロンコ博士, Doutor Koronko, o Senhor Mistério), e sua versão para "King Kong"(キングコング). Nelas, Tetsuka já assinava como "Tezuka Osamushi" (手塚治虫), apesar disso, o termo 'mushi' era omitido na linguagem oral ocidental, deste modo, seu nome falado era "Tezuka Osamu" mas escrito era "Osamushi" 
'Kaijin Koronko Hakase'
'Chitei Koku no Kaijin'
Em 1948, Tezuka preparou "Chitei Koku no Kaijin"(地底国の怪人, Bizarro País das Profundezas), uma obra de ficção científica, sobre um garoto e um coelho super inteligente que fazem uma exploração ao Centro da Terra, e uma missão lançada para resgatá-los. A obra seria publicada em fevereiro daquele ano, porém, foi adiada devido a problemas de desenvolvimento: a história não tinha um final feliz, como era costume ocorrer nos quadrinhos da época. Tanto a editora quanto o autor não chegaram a um consenso sobre o tópico e o trabalho só seria lançado mais de vinte anos depois.
'Rosuto Worudo' (1948)
Em dezembro daquele mesmo ano, Tezuka finalmente concluiu e lançou "Lost World/"O Mundo Perdido". Originalmente, Tezuka havia tido a idéia e começado os primeiros esboços da obra quando ainda estava cursando o ensino fundamental, acerca de 1940. O desenhista apresentou o ensaio original para amigos e conhecidos em meados de 1944. Os ensaios de 1940, foram guardados e publicados em coletâneas e apanhados de obras entre as décadas de 70 e 80, porém incompletas, pois parte das páginas se perdeu no decorrer dos anos. O ensaio de 1944 continua desaparecido até hoje. O Mundo Perdido foi considerado o primeiro título de manga moderno no estilo 'ficção científica'.
Cartaz de 'Metropolis' (1927)
'Metropolis' (1949)
Tezuka tinha a intenção de fazer com que a arte de quadrinhos fosse reconhecida pelas editoras profissionais, por isso decidiu criar uma história original longa, de ficção, em 1949, entitulada "Metropolis"(メトロポリス), que se passa no futuro. com humanos artificiais, bioengenharia e terrorismo. Para sua elaboração, Tezuka se inspirou em um cartaz de cinema do filme mudo de mesmo nome, realizado pelo cineasta alemão Fritz Lang (1890-1976) em 1927, apesar de nunca ter chegado a assistir o mesmo.
O manga 'Metropolis' teve aceitação notável. Cada volume de sua primeira edição foi vendida a 950 mil ienes (atualmente cerca de doze dólares), um valor alto para um manga na época. O desenhista incluiu nesta obra, parte do final trágico de "Chitei Koku no Kaijin", que havia sido responsável pelo adiamento da publicação desta no ano anterior.
Cena de 'beijo' em 'Kenju Tenshi'
'Kenju Tenshi' (1949)
Alguns poucos meses depois, Tezuka lançou "Kenju Tenshi"(拳銃天使, Anjo Atirador), uma história de aventura ambientada no Velho Oeste norte-americano, entre os estados do Novo México e Alabama, protagonizado por dois jovens e um índio guerreiro. Esta foi a primeira obra de manga a apresentar uma sutil cena de 'beijo' romântico.
'Fausto' (1950)
'Fushigi Ryokoki' (1950)
No ano de 1950, Tezuka lançou sua versão de "Fausto"(手塚治虫), baseado na peça do dramaturgo alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), com um jovem, e o demônio em forma de cachorro, e a obra "Fushigi Ryokoki"(ふしぎ旅行記, Bela Segunda Vida), sobre um homem que desencarna antes do tempo e depois passa a buscar um outro corpo para prosseguir sua existência. Baseado no filme norteamericano "Que Espere o Céu", do diretor Alexander Hall (1894-1968), com Robert Montgomery (1904-1981) e Claude Rains (1889-1967), rodado em 1941, e ganhador de dois Prêmios Oscar.
'Manga Daigaku' (1950)
Outra obra que ele lançou ainda em 1950 foi "Manga Daigaku"(漫画大学, Universidade de Manga), onde mostrava como desenhar tiras de quadrinhos e dava noções para como dar forma a uma história, usando exemplos práticos. Nesta época, Tezuka estava tendo dificuldades para conciliar a carreira de cartunista com os estudos de medicina, e chegou a ser aconselhado por seu professor de Universidade e sua própria mãe, que deveria deixar os estudos e se tornar um desenhista em tempo integral. Apesar disso, Tezuka se manteve na faculdade, formando-se em março de 1951, e depois estagiou por um ano, obtendo a licença de médico, em julho de 1953.
Um dos métodos para publicação de manga no Japão são as revistas, onde são agrupados capítulos de histórias diferentes, impressas em papel-jornal, em volumes que podem ter entre cem a novecentas páginas. As revistas também são o método de princípio de carreira mais comum para novos artistas. Atualmente, o método de capítulo é usado para analisar o nível de aceitação do público sobre uma determinada história, que caso apresente boas respostas, pode ser continuada. Algumas vezes, quando a história continuada atinge um determinado número de capítulos, ela pode ser compilada em uma edição própria e impressa em um volume com papel de melhor qualidade.
'Taiga Hakase no Takara Ryoko' (1950)
Revistas 'Shonen Shojo Manga no Yomimono' (1947-1953)
Ao chegar em Tóquio, a intenção de Tezuka era de trabalhar na Kodansha (講談社), a maior editora do Japão, (estabelecida em 1909), mas foi primeiramente recusado, encontrando emprego na antiga editora "Shinseikaku"(新生閣), por onde publicou "Taiga Hakase no Takara Ryoko"(タイガー博士の珍旅行, A Viagem Fabulosa do Doutor Tigre), sua primeira obra em uma revista profissional, lançada em abril de 1950, na "Shonen Shojo Manga to Yomimono"(少年少女漫画と読み物, Material de Leitura para Meninos e Meninas), uma publicação mensal de quadrinhos para jovens, que a Shinseikaku lançou entre dezembro de 1947 até dezembro de 1953.
'Jungle Taitei' (1950)
Tezuka foi contratado pela Kodansha, apenas em novembro de 1950, onde começou a produzir "Janguru Taitei"(ジャングル大帝, Imperador da Selva), que no Ocidente ficaria conhecido como "Kimba, O Leão Branco" ou "Kimba, O Rei da Selva", contando a história de um pequeno leão branco, nascido em um zoológico, após sua mãe ter sido presa e seu pai morto por caçadores, mostrando ainda sua fuga do cativeiro, a convivência com humanos e o retorno para a selva. A obra foi publicada na antiga revista "Manga Shonen"(漫画少年), e foi muito bem aceita no Japão, tendo 43 capítulos e permanecendo até abril de 1954.
A Revista "Manga Shonen"(漫画少年), foi uma publicação mensal de curta duração, da "Kabushiki Kaisha Kodansha"(株式会社講談社), a maior editora do Japão, voltada para o mercado juvenil de quadrinhos, lançada pela primeira vez em dezembro de 1947, sob o comando do editor-chefe Kato Kenichi, um dos mais conhecidos responsáveis por publicações de manga da era moderna.
Kato Kenichi (加藤謙一), foi um professor, jornalista e magistrado, nascido na cidade de Hirosaki, Província de Aomori, a 28 de maio de 1896. Foi professor substituto da Universidade de Hirosaki antes de se mudar para Tóquio como aspirante a editor, sendo contratado pela Kodansha em abril de 1921. Um mês depois, foi nomeado editor-chefe da revista "Shonen Kurubu"(少年倶楽部), publicação de manga voltada para o público jovem pelo presidente-fundador da Kodansha, Noma Seiji (野間清治, 1878-1938). Durante sua gestão, a tiragem da revista aumentou de 200 mil para 750 mil exemplares. Retirou-se da empresa em 1936. Em 1937, o governo japonês iniciou a invasão gradual da China, e para evitar mobilização pública, censurou a imprensa, proibindo qualquer publicação em massa que tivesse imagens, cores ou grande tiragem. Com o fim da Guerra, Kato foi solicitado para auxiliar na restauração do mercado abalado de manga, sendo nomeado editor-chefe da revista 'Manga Shonen' em 1947. Parte da publicação era reservada para divulgação de trabalho de iniciantes desconhecidos, o que permitiu o lançamento de autores como Eichi Fukui e Shotaro Ishinomori. Após perder espaço para outras revistas, a 'Manga Shonen' foi cancelada subitamente, em dezembro de 1955 após 101 edições. Kato se demitiu logo depois, retornando a Hirosaki, onde passou a exercer cargo público jurídico. Morreu em 30 de julho de 1975, aos 79 anos.

'Atomu Taishi' (1951)
Em abril de 1951, Tezuka lançou o clássico "Atomu Taishi"(アトム大使, Embaixador Atomo), uma história de ficção ambientada no futuro, cujo personagem principal era um robô com superpoderes, que tinha a aparência de um menino, com sentimentos e emoções podendo rir e chorar. A história foi serializada um ano depois, a partir de abril de 1952, na hoje extinta revista "Shonen"(少年), da Editora Kobunsha (光文社), rebatizada com o nome de "Tetsuwan Atomu"(鉄腕アトム, Atomo Poderoso).
'Tetsuwan Atomu' (1952)
Nesta época, Tezuka já estava morando em um apartamento modesto chamado "Tokiwa" (手塚治虫), no Distrito de Toshima, na área metropolitana de Tóquio. Foi no mesmo ano, que Tezuka realizou "Boku no Son-goku"(ぼくのそんごくう, Eu Sou Son-goku), serializada pela editora "Akita Shoten"(秋田書店), sediada no Distrito de Chiyoda, Tóquio, na extinta revista "Boken-O"(漫画王), que esteve ativa entre os anos de 1949 a 1983.
'Boku no Son-goku' (1952)
Baseada na obra chinesa "Xi You Ji"(西遊記, Jornada ao Oeste), do romancista Wu Cheng-En (呉承恩, 1506-1582), 'Boku no Son-goku' contava a história de "Son-goku"(孫悟空), um macaco mágico antropomórfico de pêlo amarelado, e suas aventuras enquanto viaja em companhia do monge budista Xuan Zang (玄奘三蔵, 602-664), através da Velha China, em direção à India.  A grafia do título nas primeiras publicações, foi escrita no antigo silabário "hiragana"(平仮名), sendo convertidos para linguagem usual (ぼくの孫悟空) algum tempo depois. O Hiragana é o mais simples dos três silabários usados na linguagem japonesa. Desde o final da Segunda Guerra, o 'hiragana' foi estabelecido, devido a simplicidade, como o primeiro silabário a ser ensinado às crianças nas escolas no ensino fundamental. 
Tokiwa-so (手塚治虫) foi um apartamento de madeira que ficava no bairro de Minami-Nagasaki, no Distrito de Toshima, em Tóquio. O prédio foi inaugurado em 06 de dezembro de 1952 e teve o desenhista Tezuka Osamu como um de seus primeiros moradores ilustres. No inicio de carreira, quando foi para Tóquio, Tezuka passou a morar em um apartamento que ficava em cima de uma mercearia, na parte da Província de Shinjuku, onde anteriormente havia sido o antigo Distrito de Yotsuya. Devido a reclamação dos proprietários da mercearia pelo fluxo de estudantes e amigos que entravam e saiam de seu apartamento, Tezuka foi forçado a se mudar, e atendendo ao convite de Kato Hiroyasu (加藤宏泰), segundo filho de Kato Kenichi  (加藤謙一, 1896-1975), editor-chefe da revista "Manga Shonen", ambos passaram a morar no apartamento Tokiwa. Com a fama de Tezuka, Tokiwa passou a ser um ponto de encontro de 'mangaka'(漫画家, cartunistas), e muitos começaram a se hospedar no local. Depois de um tempo, ser desenhista passou a ser um dos requisitos para poder ser hóspede de Tokiwa, que acabou se tornando uma cooperativa e realizando diversos eventos. Além de Tezuka, que residiu no local até 1954, Tokiwa teve como moradores ilustres Terada Hiro (寺田ヒロオ, 1931-1992), primeiro ganhador do Prêmio "Kodansha Jido Manga Sho"(講談社児童まんが賞) de publicação infantil; a dupla Fujiko Fujio (藤子不二雄), nome artístico de Fujimoto Hiroshi (藤本弘, 1933-1996) e Abiko Moto (安孫子素雄, 1934-   ), criadores do personagem Doraemon; Akatsuka Fujio (赤塚不二夫, 1935-2008), o 'Mestre da Piada Visual'; Shotaro Ishinomori (石ノ森章太郎, 1938-1998), criador da série Kamen Rider e de vários seriados de ficção científica estilo 'tokusatsu' e Mizuno Hideko (水野英子, 1939-   ), uma das primeiras bem sucedidas desenhistas de manga estilo 'shojo', que foi a autora de "Bokura Managaka Tokiwa-so Monogatari"(ぼくらマンガ家・トキワ荘物語, Somos Cartunistas, A História do Apartamento Tokiwa), lançado em 1981, e transformado em documentário pelos Estúdios Toei, em 03 de outubro do mesmo ano. Isso ocorreu dois anos depois de Tokiwa ter sido declarado local de risco devido a degradação das fundações. Tokiwa ficou interditado por mais um ano, até ser finalmente demolido em 29 de novembro de 1982. O comunicado original dizia que seria construído um novo prédio de apartamentos no local, porém a crise imobiliária que se abateu no Japão na década de 80 encerrou o projeto. Seu terreno foi abandonado e atualmente é uma sede da editora "Nihon Kajo Shupan (日本加除出版). Em 06 de abril de 2012, um monumento com a miniatura de Tokiwa foi inaugurado no local, como um marco na história do manga.
Maquete de Tokiwa-so
Documentário 'Bokura Managaka Tokiwa-so Monogatari', lançado em 03 de outubro de 1981, pelos Estúdios Toei.
Monumento a Tokiwa-so (2012)

'Kitarubeki Sekai' (1951)
Ainda em 1951, Tezuka lançou "Kitarubeki Sekai"(来るべき世界, O Mundo Que Virá), sobre um futuro na era atômica, com testes nucleares criando formas de vida poderosas, e os governos do mundo lutando para ter o controle sobre elas. Esta obra encerrou a chamada "Trilogia de Ficção de Tezuka Osamu", composta por O Mundo Perdido e Metropolis.
'Ribon no Kishi' (1953)
Em janeiro de 1953, Tezuka começou a serializar um conto romântico na extinta revista "Shojo Kurubu"(少女クラブ), destinada ao público feminino jovem. Esta obra se chamava "Ribon no Kishi"(リボンの騎士, Cavaleiro de Faixa. No Brasil: A Princesa e o Cavaleiro), e contava a história da princesa Safire, que fingia ser um homem, pois o trono da Terra de Prata só podia ser ocupado por homens. Este manga, com seu estilo novelesco foi inspirado nas obras de Disney e nas memórias que Tezuka tinha de sua infância no Takarazuka Kagekidan, e foi muito apreciado pelo público feminino. 'Ribon no Kishi' foi um dos predecessores do moderno manga romântico estilo "shojo"(少女), e teve duas continuações, realizadas no decorrer dos quinze anos seguintes.
Em 1953, Tezuka já era uma das pessoas de maior poder aquisitivo no Japão. Quando foi visitado por jornalistas para uma entrevista, estes se mostraram surpresos pelo fato de, por ser uma pessoa de alta classe econômica, Tezuka estivesse residindo em Tokiwa, um modesto apartamento de madeira de dois andares. Tezuka acabaria se mudando no ano seguinte.
'Hi no Tori' (1954)
Em julho de 1954, Tezuka Osamu começou a escrever o primeiro volume de "Hi no Tori"(火の鳥, Pássaro de Fogo), no Ocidente conhecido como "Fênix", que só seria publicada mais tarde. Hi no Tori foi uma coleção que tinha como tema a humanidade e a incessante busca pela imortalidade. Foi um trabalho realizado em intervalos irregulares, no qual Tezuka trabalharia até o fim de sua vida. Seu tópico central era a Fênix, o lendário pássaro da mitologia grega que vive mil anos. Quando a criatura chega ao fim da sua existência, seu corpo se incendeia e a ave renasce de suas próprias cinzas. O conto da fênix seria inspirado em uma lenda egípcia, que por sua vez, seria originária de um mito da filosofia budista hindu. Uma crendice popular alega que uma pessoa que tem contato com sangue, carne ou penas de uma fênix adquire vida eterna, por isso, a saga de Tezuka retrata eventos ocorridos no decorrer da História, durante a busca pelo pássaro. A história de Tezuka começa a ser contada com eventos ocorridos no ano 240 e terminava no ano 3404. A meta da obra era que, destes dois pontos de partida, a história fosse desdobrada gradativamente até chegar nos dias atuais. Os primeiros segmentos de 'Hi no Tori' foram primeiramente publicados nas revistas 'Shonen' e 'Shojo Kurubu' entre 1954 e 1957. Tezuka lançaria doze volumes desta obra pelas próximas três décadas.
'Tonkara Tani Monogatari'
Coleção 'Raion Bukusu'
'Daisan Teikoku no Hokai'
Tezuka se tornou mais profílico a partir de 1955, com o lançamento de "Daisan Teikoku no Hokai"(第三帝国の崩壊, A Queda do Terceiro Reich), lançado pela editora "Bungei Shunju"(文藝春秋), na extinta revista "Manga Dokuhon"(漫画読本), uma publicação de baixo custo, veiculada entre 1954 a 1970, com o qual tentou criar um estilo mais adulto, com piadas sarcásticas, sendo seguido pela coletânea de pequenas lendas infantis "Tonkara Tani Monogatari"(とんから谷物語, História do Vale Tonkara), a coleção "Raion Bukusu"(ライオンブックス, Livros do Leão), e a edição "Gakushu Manga"(学習漫画, Aprendizado de Manga), que ensinava como iniciar na carreira de cartunista.
'Manga Seibutsugaku'
'Biko-chan'
O educativo "Manga Seibutsugaku"(漫画生物学, Escola de Biologia em Manga), e a coleção de livros de ensino fundamental "Biko-chan"(びいこちゃん) realizadas neste período, deram a Tezuka o prêmio "Shogakukan Manga Sho"(小学館漫画賞), concedido pela editora "Shogakukan"(小学館), e um dos mais importantes do país no setor de quadrinhos.
Tatsumi Yoshihiro, pai da graphic novel japonesa.

Em 1957, surgiu no Japão, a chamada "gekiga"(劇画, Novela Gráfica), uma forma de arte de quadrinhos voltada para o público adulto. Este tipo de obra tinha os desenhos mais detalhados e realistas, e foi popularizado no Japão pelo cartunista Tatsumi Yoshihiro (辰巳ヨシヒロ, 1935-   ). O termo 'gekiga', era utilizado pelos cartunistas que não queriam ser chamados 'mangakas', pois consideravam o 'manga', um desenho para crianças, com traços primários e de qualidade inferior. Tezuka decidiu tentar se incorporar ao novo estilo, realizando intensos estudos que o levaram a uma crise nervosa.
'Gorudo no Toranku' (1957)
Finalmente, ainda em 1957, começou a serializar "Gorudo no Toranku"(黄金のトランク, Baú de Ouro), onde incorporou o gekiga, dentro de suas possibilidades, porém, o qresultado foi um trabalho singular, que muitos acabariam por definir como se Tezuka houvesse criado seu próprio estilo de gekiga, depois, o autor terminou por retomar seu estilo próprio.
Koroshi Ya Gekiga
No capítulo "Tomei na Kyodai na"(透明巨人) de 'Tetsuwan Atomu', Tezuka acabaria por introduzir um personagem chamado "Koroshi Ya Gekiga"(殺し屋ゲキガー, Assassino Gekiga), um robô assassino profissional, que tinha a missão de destruir Tetsuwan Atomu, como uma ironia ao estilo 'gekiga'. Porém, Tezuka acabou por lançar o personagem com o nome modificado para "Koroshi Ya 0000"(殺し屋0000(ゼロゼロゼロゼロ), Assassino 0000), e apesar disso, continuou a se opor ao gekiga durante toda a sua carreira.
Tezuka Osamu e esposa (1959)
A crise nervosa que Tezuka teve decorrente deste fato, o levou a ser internado no Hospital da Faculdade de Medicina de Chiba, onde foi aconselhado a reduzir o rítmo de trabalho, ou até mesmo encontrar uma esposa. Tezuka aceitou o conselho e decidiu realizar um 'omiai'(お見合い, Casamento Arranjado), sendo apresentado por amigos, a diversas atrizes e cantoras, Por fim, Tezuka aceitou assumir compromisso, por sugestão de sua mãe, com Okada Etsuko (岡田悦子), uma parente distante, em 04 de outubro de 1959.
Devido ao ofício de Tezuka, os encontros entre ambos eram curtos, chegando ele a ter de se retirar no meio de uma exibição de cinema para trabalhar, ou caindo de sono durante um encontro em um café. Mesmo assim, ambos se casaram seis meses depois, e sua esposa se tornou Tezuka Etsuko (手塚悦子). A mãe de Tezuka teve de levar o anel de casamento na casa de Etsuko, pois o cartunista estava trabalhando em Tóquio e não podia se ausentar no momento.
Após o casamento, Tezuka reduziu parcialmente seus trabalhos e o casal teve três filhos: Makoto, Rumiko e Chiiko. Durante este período, foi convidado a auxiliar os estudos biológicos de Yasuzumi Gonpachiro (安澄権八郎), seu antigo professor na Universidade de Osaka. Os ensaios realizados pelo cientista e ilustrados por Tezuka, permitiram ao cartunista receber o doutorado em 1961.
Primeira Equipe da Mushi Productions (1962)
Desde a infância, inspirado pelos filmes que assistia, Tezuka almejava realizar os seus próprios trabalhos de animação. O manga havia lhe permitido acumular um patrimônio considerável, que lhe permitiria patrocinar sua empreitada no mundo do anime, o que lhe rendeu muitas críticas por intermédio de conhecidos. Anteriormente, Tezuka havia trabalhado como auxiliar em produções de animes para os Estúdios Toei, o que lhe dava um certo conhecimento para a elaboração das obras. Em junho de 1961, Tezuka juntou uma equipe de seis funcionários e fundou a "Tezuka Osamu Doga Productions"(手塚治虫プロダクション動画), que cresceu rapidamente, tendo seu nome mudado para "Mushi Productions"(虫プロダクション), em janeiro do ano seguinte.
Cena do anime 'Astro Boy' (1963)
Em 01 de janeiro de 1963, a Mushi Productions lançou o anime de "Tetsuwan Atomu", que ficou conhecido mundialmente como 'Astro Boy'. Ainda em preto e branco, quando a televisão era relativamente uma novidade no país, Astro Boy foi o primeiro anime serializado para TV, com episódios de cerca de 25 minutos de duração cada um. (A forma que se tornaria a mais utilizada na produção de animes até hoje).
Astro Boy também viria a ser um dos primeiros animes a ser exibido fora do Japão e o primeiro a trazer as mensagens 'direitos reservados ao autor' e 'solicitar permissão para o detentor dos direitos autorais para uso de imagem'. Tezuka foi instruído a colocar estas mensagens por funcionários da extinta empresa "Seika Noto"(セイカノート) que pertencia a indústria de brinquedos 'BANDAI'(バンダイ), hoje "Namco BANDAI Games Kabushiki Kaisha"(バンダイナムコホールディングス), que fornecia os materiais para a produção dos animes. A Seika Noto tinha contatos com a Disney e informou a Tezuka, as informações que tinham sobre como a empresa norteamericana lidava com direitos autorais de animações. (algo praticamente inexistente no Japão da época). Desta forma, Tezuka implantou o direito exclusivo de comercialização e propaganda sobre as obras, e a taxa de utilização paga ao detentor, o que permitiram aliviar em parte, os pesados encargos que estava tendo com a produção.
Cena do anime 'Astro Boy'
Astro Boy teve 193 episódios e foi exibido até 31 de dezembro de 1966. O valor de custo do anime é desconhecido atualmente. Tezuka chegou a alegar que cada episódio da série teria lhe custado cerca de 550 mil ienes (cerca de sete mil dólares) porém, de acordo com funcionários que trabalharam na elaboração de Astro Boy, o custo total teria sido muito maior, com um valor que atualmente equivaleria a cerca de 3,7 milhão de dólares. Sabe-se que quando Tezuka realizou 'Jungle Taitei', o seu primeiro anime a cores (o que era caro devido ao sistema ser o mais moderno que existia no momento), esta obra custou menos do que Astro Boy.
Cenas de episódios de 'Ginga Shonen Tai'
Em 07 de abril de 1963, a Mushi Productions lançou "Ginga Shonen Tai"(銀河少年隊, Tropa dos Meninos Galáticos), um seriado de ficção sobre um grupo de heróis tentando salvar o planeta quando o Sol começa a se apagar. Este trabalho foi realizado com a utilização de marionetes e teve três temporadas, sendo que na primeira, cada episódio tinha apenas quinze minutos de duração.
'Maguma Taishi' (1965)
Em meados de 1965, Tezuka começou a trabalhar em "W3"(ワンダー3, Três Fantásticos), um manga publicado na revista "Weekly Shonen Magazine"(週刊少年マガジン), da Kodansha, sobre três militares extraterrestres, com a missão de verificar se a Terra deve ser destruída, e que ao entrarem na atmosfera, são transformados em um coelho, um pato e um cavalo. A série foi cancelada após apenas seis edições. Então, Tezuka decidiu oferecê-la para a editora Shogakukan (小学館), que a publicou integralmente na sua revista "Weekly Shonen Sunday"(週刊少年サンデー), entre os meses de maio de 1965 e 66.
Em maio daquele mesmo ano, Tezuka começou "Maguma Taishi"(マグマ大使, Embaixador Magma), uma série com um super herói gigante de corpo dourado, que luta contra invasores extraterrestres. Em 06 de junho de 1965, Tezuka lançou o anime de 'W3', exatamente uma semana após o manga começar a ser publicado na 'Weekly Shonen Sunday', que acabaria dando origem ao chamado "Incidente W3"(W3事件).
Cena do anime 'W3' (1965)
'Uchu Shonen Soran', da TBS (1965)
O 'Incidente W3' foi uma acusação pública que Tezuka Osamu fez, em 1965, contra os realizadores do anime "Uchu Shonen Soran"(宇宙少年ソラン, Jovem Astronauta Soran), lançado pela emissora de televisão TBS (Tokyo Broadcast System), um mês antes do anime 'W3'. Ao assistir ao anime, Tezuka alegou haviam similaridades entre as obras, e principalmente, que o esquilo que acompanhava o personagem Soran era visualmente, muito similar ao coelho do seu 'W3'.
Tezuka, com a atriz mirim Kobato 
Kurumi (小鳩くるみ, 1948-   ), no
final da década de 50.
Este apontamento, feito durante um evento de manga, levou a uma investigação de imprensa. As acusações levaram a crer que, se os desenhos fossem realmente cópias, teriam vazado do manga, no período em que este esteve aos cuidados da 'Weekly Shonen Magazine', anterior ao seu cancelamento. Então foi teorizado que, se isso fosse verdade, poderia ser interpretado como se a 'Weekly Shonen Magazine' estivesse favorecendo os produtores de 'Uchu Shonen Soran', transmitindo informações à equipe da TBS e cancelando a publicação da obra de Tezuka. As acusações afetariam o trabalho de pessoas que não tinham relação com o incidente, quando moveram a opinião pública, e a 'Weekly Shonen Magazine' teve redução em vendas quase pela metade, isso levou a renúncia do editor Ioka Shuji (井岡秀次), e prejudicou o trabalho de todos os cartunistas que estavam publicando obras na revista. Por fim, as acusações cairam sobre o escritor e dramaturgo Toyota Aritsune (豊田有恒, 1938-   ), que na época, estava trabalhando na produção de 'Jungle Taitei'. Toyota era funcionário da Mushi Productions, mas também trabalhava usando um outro nome, para a Tokyo Broadcast System, a emissora que realizou 'Uchu Shonen Soran'. Toyota foi dispensado da Mushi Produtions, sendo praticamente apontado como 'o espião responsável pelo incidente W3'. Ofendido, Toyota rompeu relações com Tezuka.
O editorial da 'Shogakukan', que estava publicando o manga de Tezuka, o recomendou a não falar mais no assunto para não agravar o caso. A 'Weekly Shonen Magazine' pertencia a editora Kodansha, e levantar insinuações contra a revista, seria como incitar acusações contra a maior editora do Japão. Gradativamente, a Kodansha reduziu suas solicitações para publicar obras de Tezuka, até pará-las de vez, no final dos anos 70. Nunca houveram provas sobre os fatos que geraram o incidente. O anime 'W3' encerrou um ano depois, após 52 episódios. Não foram efetuadas medidas judiciais ou processos por parte da TBS, 'Uchuu Shonen Soran' foi reconhecido como uma obra original, e continuou sendo exibido até março de 1967.
Osamu Tezuka e Yamashita Kiyoshi (山下清), em foto tirada a 02 de julho de 1958. Yamashita Kiyoshi foi um artista plástico japonês, nascido em Tóquio, a 10 de março de 1922, que ficou famoso por ter realizado obras baseadas em paisagens que observou enquanto viajava pelo Japão, levando apenas a roupa do corpo, o que lhe deu o apelido de "Taisho Horoki"(大将放浪記, O General Nu). Yamashita, que tinha transtorno de fala, uma memória fotográfica e uma deficiência mental indeterminada, que se acredita ter sido 'autismo', também ficou conhecido como "O Van Gogh do Japão". Morreu em Quioto, a 12 de julho de 1971, aos 49 anos, vitima de uma hemorragia cerebral decorrente de hipertensão crônica.
Cena do anime 'Jungle Taitei' (1965)
Durante o processo do 'Incidente W3', a Mushi Productions estava produzindo outra adaptação de Tezuka, o anime "Jungle Taitei", exibido entre 06 de outubro de 1965 até 28 de setembro do ano seguinte. Jungle Taitei teve 52 episódios coloridos, que o fizeram ser denominado 'O primeiro anime a ser realizado em série de longa duração, com episódios a cores'. Jungle Taitei foi premiado com o Leão de Prata de San Marco (Melhor obra escolhida pela crítica), no Festival Internacional de Veneza de 1967, e foi exibido no Brasil no inicio da década de 70.
Cena do anime 'Goku no Daiboken' (1967)
A Mushi Productions ainda produziria as versões animadas de Goku no Daiboken (悟空の大冒険, Aventuras de Goku, baseado em 'Boku no Son-goku') e A Princesa e o Cavaleiro, sendo este último, exibido no Brasil, primeiramente pela extinta emissora TV TUPI, e depois pela TV Record de São Paulo, com grande sucesso na época. O valor alto para a realização de projetos televisivos a cores fez com que a Mushi Productions continuasse a produzir parte de seus animes em preto e branco até a década de 70.
Cena do anime 'Ribon no Kishi' (1967)
 Em janeiro de 1967, a Mushi Productions lançou sua revista própria,  'COM'(コム), abreviação de 'Comics'(quadrinhos), que Tezuka utilizou para publicar alguns capítulos de seus trabalhos, e também obras de outros autores que estivessem realizando ensaios experimentais que não eram aceitos nas revistas convencionais. Em 23 de janeiro de 1968, Tezuka fundou uma outra empresa chamada "Tezuka Productions"(手塚プロダクション), independente da Mushi Produtions, e voltada inicialmente para a produção única de manga. Tezuka se encarregou de adquirir um local para a fundação da sede da Tezuka Productions que ficasse próxima a sede da Mushi Productions, desta forma, ele poderia se deslocar entre ambas rapidamente, e a pé.
Depois dos Estados Unidos e Cuba, o Japão foi o terceiro país do mundo a realizar a transmissão de imagens televisivas a cores, em 10 de setembro de 1960. Devido ao alto custo do sistema necessário para este tipo de exibição, poucas emissoras de TV o adotaram de imediato. Não se sabe ao certo quando teria sido realizado o primeiro anime a cores, porém, o mais antigo registro atualmente, remete a "Dorufin Oji"(ドルフィン王子, Principe Golfinho), uma produção experimental de três episódios, exibido entre 04 e 18 de abril de 1965, pela 'Kabushiki Kaisha Fuji Television'(株式会社フジテレビジョン), de Tóquio. Apesar dos episódios, hoje perdidos, produzidos pela extinta companhia 'Terebi Doga'(テレビ動画) terem apenas trechos em cores, esta obra é considerada hoje, como sendo o primeiro anime colorido exibido no Japão.

Cena do seriado 'Maguma Taishi' (1966)
Em 04 de julho de 1966, "Maguma Taishi" foi transformado em 'tokusatsu', um seriado de ficção e aventura, onde atores reais utilizam fantasias para incorporar os personagens.
'Maguma Taishi', que ficou conhecido no Brasil como 'Vingadores do Espaço', foi produzido pela empresa "P Productions"(ピー・プロダクション), e exibido pela TV Fuji. Teve 52 episódios que duraram até setembro de 1967, e seu lançamento antecedeu ao de 'Ultraman' por treze dias, ficando 'Maguma Taishi' conhecido como o primeiro seriado 'tokusatsu' a ser exibido a cores.
Cena do anime 'Dororo' (1969)
'Dororo' (1967)
Um outro trabalho de Tezuka que foi transformado em anime foi "Dororo"(どろろ), no ano de 1969. Dororo é um conto ambientado no Japão pré medieval, sobre uma criança que antes de nascer, teve o corpo dividido em pedaços, que seu pai distribuiu entre muitos demônios em troca de se tornar um homem poderoso. Ao nascer completamente deformada, a criança é deixada para morrer, mas é salva por um cientista que lhe faz uma série de implantes com membros de crianças mortas. A partir deste momento, o jovem 'remontado', com ajuda de um menino, passa a combater os demônios que, graças aos seus pedaços vendidos, conseguem se manter materializados para causar terror no mundo humano. O manga havia sido serializado na revista 'Weekly Shonen Sunday' dois anos antes, mas não foi bem aceita pelo público devido a seu clima sombrio e foi cancelada. Ainda em 1969, a Mushi Produtions lançou a revista "Fani"(ファニー), o segmento feminino de quadrinhos do grupo.
Cena do anime 'Ashita no Jo' (1970)
A Mushi Productions também realizou adaptações de animes e filmes de outros autores, sendo uma das mais famosas, o clássico de boxe "Ashita no Jo"(あしたのジョー), em setembro de 1970, baseado na obra de Kajiwara Ikki (梶原一騎, 1936-1987) e Chiba Tetsuya (ちばてつや, 1939-   ).
'Abanchuru 21' (1970)
Em 1970, Tezuka relançou o manga "Chitei Koku no Kaijin", (a história escrita em 1948, que não havia sido lançada devido a incompatibilidade de opinião autor/editora, sobre o final). Tezuka fez algumas alterações na obra, agora ambientada em uma viagem ao espaço, sendo lançada com o nome de "Abanchuru 21"(アバンチュール21, Aventura 21),
'Apollo no Uta' (1970)
'Yakkepachi no Mariya'
Em abril daquele mesmo ano, Tezuka lançou "Apollo no Uta"(アポロの歌, Canção de Apolo), na extinta revista Weekly Shonen King (週刊少年キング), fazendo menção a um garoto maltratado, que ao crescer, começa a questionar o verdadeiro amor entre homens e mulheres. Publicada em uma época em que o Japão passava por tempos turbulentos, repletos de manifestações politicas e anarquia, a obra dividiu a crítica, ao mesmo tempo que Tezuka lançou "Yakeppachi no Mariya"(やけっぱちのマリア, Desespero de Maria), um trabalho com conotação sexual, que acabou sendo vetado pelo conselho de bem estar da criança da Província de Fukuoka.
Tezuka e Jean Giraud, 'Moebius'
(1938-2012) cartunista francês,
desenhista de obras de ficção
e cinema, em visita a Quioto,
 em 1982.
No inicio da década de 70, Tezuka começou a ter dificuldade para contratar pessoas para prosseguir a realização de seus animes. Para executar os desenhos da forma como Tezuka desejava, era necessário que os artistas tivessem uma determinada noção de arte e pintura, algo que não estava disponivel no mercado no momento. Finalmente, a redução de demanda levou a queda de arrecadação, e uma consequente redução de pessoal na empresa que, naquele momento, contava com mais de quatrocentos funcionários, gerando grandes custos trabalhistas e conflitos internos.
Nos estúdios da norteamericana 
Paramount Pictures, Hollywood, 
Califórnia, em março de 1978.
Tezuka se retirou da presidência da Mushi Productions em 1971, continuando no cargo de diretor comercial. Pouco tempo depois, as disputas trabalhistas se agravaram até que, em 05 de novembro de 1973, a Mushi Productions declarou falência, com uma dívida aproximada de dois a quatro milhões de dólares. O fechamento da Mushi Productions causou perdas econômicas a Tezuka, porém, por ter se retirado da presidência da empresa dois anos antes, não têve de responder judicialmente pela dívida da corporação.
A falência da Mushi Productions encerrou sua subsidiária, a editora "Mushi Puro Shoji"(虫プロ商事, Mushi Prod. Negócios Comerciais, fundada em 1966), e as revistas 'COM' e 'Fani'. Depois disso, Tezuka começou a produzir animes na Tezuka Productions.
A massa falida da Mushi Productions foi comprada por uma cooperativa e reinaugurada em 29 de setembro de 1977, mantendo o mesmo nome. Apesar da empresa atualmente trabalhar junto com a Tezuka Productions e ter os direitos sobre as obras da corporação falida, Tezuka Osamu não teve nenhum papel em sua reorganização, que manteve o nome antigo devido a seu valor cultural.
'Budda' (1972)
Em setembro de 1972, Tezuka começou "Budda"(ブッダ), a sua versão para a vida do príncipe indiano Siddarta Gautama (सिद्धार्थ गौतम, 563a.C.-483a.C.), que ao ver o sofrimento de seu povo, abandonou a vida pomposa do palácio e passou a se dedicar a uma existência de humildade e meditação, lançando os fundamentos da religião budista. A obra de Tezuka foi publicada até 1983, recebendo boas críticas.
'Black Jack' (1973)
Em novembro de 1973, Tezuka lançou "Black Jack"(ブラック・ジャック), obra que retrata um médico com poderes sobrenaturais, que cobra altíssimas quantias por seus serviços, que incluem realizar operações místicas, dando-lhe a alcunha de 'o médico do impossível', e fazendo-o ser perseguido pela polícia. Foi o mais longo trabalho de Tezuka voltado a um personagem em particular, sendo escrito entre 1973 e 1983, e lhe conferiu o Prêmio Especial da Associação de Cartunistas do Japão em 1975, e o Kodansha Manga Sho, em 1977. 
'Mittsune ga Toru' (1974)
Em 1974, o autor lançou "Mittsune ga Toru"(三つ目がとおる, O Terceiro Olho) sobre um garoto com predisposição a causar confusões, e cujo lado maléfico se manifesta quando o terceiro olho que carrega em sua testa é descoberto.
Em 1976, Tezuka retomou "Hi no Tori", após uma pausa de cinco anos, e no ano seguinte, iniciou a coleção de dezoito livros "Tezuka Osamu Manga Zenshu"(手塚治虫漫画全集, Obras Completas de Manga de Osamu Tezuka), um relançamento de algumas de suas obras, que foi publicada entre 1977 a 1984.
Equipe do filme "Hi no Tori", realizado pelos Estúdios Toho, em foto de 14 de fevereiro de 1978. Da esquerda: os atores Tanaka Ken (田中健, 1951-   ), Emori Toru (江守徹, 1944-  ), Ishizaka Koji (石坂浩二, 1941-   ) e Wakayama Tomisaburo (若山富三郎, 1929-1992), o diretor Ichikawa Kon (市川崑, 1915-2008), o criador Osamu Tezuka, o poeta Tanikawa Shuntaro (谷川俊太郎, 1931-   ), responsável pelo roteiro; a atriz Takamine Mieko (高峰三枝子, 1918-1990) e a estilista Koshino Junko (コシノジュンコ, 1939-   ), responsável pelo figurino.
Tezuka nos Estados Unidos em 1979, na casa de Ward Walrath Kimball (1914-2002), desenhista da Disney, autor de artes em desenhos dos estúdios realizados nas décadas de 40 a 60, como 'Dumbo', 'Alice no País das Maravilhas', 'Cinderela' e 'Pinóquio', e conhecido como um dos 'Oito Grandes Anciões' da Era de Ouro dos Desenhos Animados. A direita está Frederik L. Schodt (1950-    ), norte-americano que viveu a maior parte da vida no Japão. Tradutor de manga para o inglês e um dos maiores responsáveis pela popularização da arte no Ocidente. Autor da edição "Manga! Manga! The World of Japanese Comics!", publicado em 1983, com introdução de Tezuka, e considerado a primeira obra significativa sobre quadrinhos japoneses a ser lançada em inglês.
Alguns dos antigos moradores de Tokiwa-so, em foto de 1982, pouco antes de o prédio ser demolido. Da esquerda: Ishinomori Shotaro (石ノ森章太郎, 1938-1998), Tezuka, Yokota Tokuo (よこたとくお/横田徳男, 1935-   ) de pé;  Abiko Moto (安孫子素雄, 1934-  ), o diretor de animação Suzuki Shinichi (鈴木伸一, 1933-   ) na mesa; e Fujimoto Hiroshi (藤本弘, 1933-1996), no canto, a direita.
Em 1981, Tezuka apresentou "Hidamari no Ki"(陽だまりの樹, Árvore em um Local ao Sol), uma história relatando a amizade entre um médico e um samurai no final do Período Tokugawa. A obra conferiu a Tezuka, o 'Shogakukan Manga Sho' em 1984.
'Hidamari no Ki' (1981)
'Adolf ni Tsugu' (1983)
Em janeiro de 1983, Tezuka lançou "Adolf ni Tsugu"(アドルフに告ぐ, Relatando à Adolf), um drama histórico, protagonizado por três pessoas que compartilham o nome Adolf, na Alemanha durante a década de 30, sendo uma delas, o chanceler Adolf Hitler (1889-1945), e um plano para ocultar um suposto passado judeu do ditador. Esta obra ganhou o 'Kodansha Manga Sho' em 1986.
Osamu Tezuka e Maurício de Sousa (1937-   ), no escritório da 'Maurício de Sousa Produções', em São Paulo, em 1984.
Tezuka Osamu, interpretando um monge shintoísta, em um episódio de "Yokai Tengoku"(妖怪天国), filme com cinco contos sobrenaturais, dirigido por seu filho Tezuka Makoto. Foto tirada no Templo de Oden, em Tóquio, a 03 de junho de 1986.
Tezuka Osamu, com o 'Prêmio Asahi', que recebeu por sua contribuição ao desenvolvimento da cultura japonesa, em 29 de janeiro de 1988.
'Ludwig B' (1987)
Após voltar do Festival Internacional de Animação de Shangai, realizado em novembro de 1988, onde participou como juíz, Tezuka sentiu-se mal e foi internado no Hospital Hanzomon, localizado no Distrito de Chiyoda em Tóquio, onde no dia 01 de novembro, recebeu o inesperado diagnóstico de câncer no estômago. Tezuka havia emagrecido muito nos últimos meses de 1988, e tinha problemas estomacais desde a década de 60, que sempre, porém, foram atribuidos a gastrite. O cartunista entrou em um curto coma pouco tempo depois, emergindo sem sequelas aparentes, passando a prosseguir a obra "Ludwig B"( ルードウィヒ・B), que retratava a vida do compositor alemão Ludwig von Beethoven (1770-1827).
Última foto de Tezuka Osamu, (o 4º, a partir da esquerda), como membro do juri no 'Festival Internacional de Animação de Shangai', realizado em novembro de 1988. Ele seria internado imediatamente após voltar deste evento ao Japão.
'Guringo' (1987)
Em 15 de janeiro de 1989, Tezuka começou a escrever um diário relatando sua condição física. Naquele momento, ele já estava consciente de que seu câncer era terminal e não poderia ser tratado, mesmo assim, decidiu prosseguir com sua arte até onde fosse capaz. Nos dez dias seguintes, Tezuka manteve seu caderno de esboços, onde realizou traços de 'Ludwig B', e da obra "Guringo"(グリンゴ, Gringo), um drama cujo personagem principal é um funcionário japonês transferido para um alto posto em uma empresa na América do Sul, onde se vê no centro de uma rede de intrigas corporativas, políticas e comerciais. Este último foi o trabalho no qual Tezuka estava empenhado no dia 25 de janeiro, quando entrou em seu segundo coma, no qual não mais despertaria.
Osamu Tezuka morreu as 10:50 hs da manhã do dia 09 de fevereiro de 1989, vítima de falência orgânica, decorrente da metagênese generalizada de adenocarcinoma gástrico, aos 60 anos. Seu funeral foi realizado na cidade de Higashikurume, no oeste da área metropolitana de Tóquio onde o cartunista residia.
Museu de Manga Osamu Tezuka
Em abril de 1994, foi inaugurado o "Museu de Manga Osamu Tezuka"(手塚治虫記念館), no Bairro de Mukogawa, Centro da Cidade de Takarazuka, com uma exposição permanente de obras e uma oficina de manga. Tezuka foi sucedido pelo artista Akatsuka Fujio, como presidente do corpo de jurados do "Prêmio Tezuka"(手塚賞), cargo que o cartunista ocupou desde 1971. Este prêmio, criado pela editora Shueisha, premia anualmente os melhores trabalhos dos novos talentos de manga. Em 1997, foi criado o "Prêmio Cultural Osamu Tezuka"(手塚治虫文化賞), concedido pelo Asahi Shimbun, um dos maiores e mais antigos jornais do país.
Após sua morte, foi tornada pública a fraude acadêmica que ocasionou a mudança da data de seu nascimento. Acredita-se que o corpo da Faculdade de Medicina já tinha conhecimento do caso desde a década de 60, mas preferiu omitir-lo e evitar gerar polêmicas desnecessárias, visto que Tezuka, apesar de graduado em cirurgia, jamais ter exercido a profissão, limitando-se no máximo, a tratar das dores de cabeça, gripes e infecções oportunas dos assistentes e amigos.
"Hi no Tori 2772" (1980)
Outra das obras inacabadas deixadas por Tezuka, na ocasião de sua morte, foi 'Hi no Tori'. Por algum tempo, cultivou-se a lenda de que o cartunista havia preparado seu final e o teria mantido guardado em um cofre, assim como fez Agatha Christie (1897-1976) em relação a seu personagem, o detetive belga Hercule Poirot. Porém, diferente da escritora britânica, Tezuka não havia preparado o final de 'Hi no Tori', e não foram encontrados esboços que pudessem dar conclusão a saga, que se mantém incompleta até hoje.
Tezuka Makoto e Tezuka Rumiko
A Tezuka Productions continua a realizar animes baseados em trabalhos do autor, como as novas versões de 'Jungle Taitei' e 'Astro Boy', e as adaptações animadas de 'Hi no Tori' e 'Black Jack', sendo este último, dirigido por seu filho mais velho Tezuka Makoto (手塚眞, 1961-   ). Sua irmã Tezuka Rumiko (手塚るみ子, 1964-    ) é produtora e ativista ambiental e a mais nova Tezuka Chiiko (手塚千以子, 1969-   ) é atriz de teatro.
Osamu Tezuka foi amigo pessoal do cartunista brasileiro Maurício de Sousa (1937-   ), criador da Turma da Mônica, e ambos tinham um projeto para elaborar um trabalho promovendo a união dos grupos de personagens que ambos os desenhistas haviam criado durante suas carreiras. Maurício de Sousa lançaria este trabalho apenas em 2012.
A arte de Tezuka influênciou muitos artistas de seu país, como o realizador Hayao Miyazaki (autor de 'A Viagem de Chihiro' e 'O Castelo Andante'), Akira Toriyama (criador da série 'Dragon Ball'), Kurumada Masami (Criador de 'Os Cavaleiros do Zodíaco') e Umezu Kazuo (Pioneiro do manga moderno de horror). É desconhecida a quantidade exata de obras que Tezuka Osamu realizou durante sua carreira que durou por 43 anos, não incluso o período de sua infância onde realizou caricaturas e ilustrações como amador. O número oficial remete a cerca de seiscentos a setecentos títulos, que variaram entre diferentes campos, de aventura, comédia, romance, quadrinhos com temática adulta, drama, trabalhos para crianças, livros didáticos, tiras de quadrinhos, publicações de introdução a arte do desenho, trabalhos biológicos e acadêmicos, além dos setenta animes que produziu por cerca de trinta anos. Sua importância na evolução cultural dos quadrinhos japoneses lhe renderam a alcunha de o "Pai do manga moderno".
Túmulo de Tezuka Osamu, no Cemitério do Templo Sozen-ji, localizado no Distrito de Kawauchi, dentro da Cidade de Kiryu, na Província de Gunma, Área Metropolitana de Tóquio

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